De vez em quando eu
recebo a visita de umas clientes que são um pouquinho mais
chamativas que as outras pessoas que visitam o ambiente. Umas donas
que estão sempre de saltos, combinando com suas bolsas que
geralmente não são de umas cores discretas. Muitas vezes com saias,
e meia calças que não combinam com nada, sempre com seus casacos
imitando pele, muitas vezes no meio do verão debaixo dos quase
quarenta graus que faz aqui em Porto Alegre. Em resumo, as conhecidas
peruas.
Sempre falando alto, e
gesticulando, é impossível não ouvir suas gargalhadas, são
divertidas, não se vê baixo astral com elas. Um dia desses em que o
café estava com pouco movimento, me contavam de uma de suas ideias,
para valorizar mais a “classe”.
- Estamos querendo
organizar uma corrida, vai se chamar ‘Maratonas das Peruas’ , já
que dizem que somos peruas, vamos usar isso e fazer um evento e ainda
ajudar alguma instituição. - contou ela animada.
E prosseguiu
explicando como seria o evento.
- Iremos ter um
circuíto, onde as moças irão correr, mas não pode-se usar roupas
de corrida, e sim as roupas do dia a dia, e os sapatos inclusive,
apenas salto.
- Mas não pode ser
somente em asfalto – atravessava-se a outra na conversa e seguia
explicando – temos que ter paralelepípedo, para dificultar, pois
senão é fácil, correr de salto no liso não traz dificuldade.
- Bem pensado, anota
ai, anota ai para não esquecermos
- Mas temos que cuidar
para chegar com todas as roupas – comentou uma terceira, que usava
um batom laranja que acho que deveria ser vermelho, mas não soube
identificar bem.
- Tá, tá, deixem eu
continuar. – e a primeira voltou a falar – E terá de ser com
chapéus, tem que ter chapéus, ou então algum enfeite. Ah, se for
chapéu não poderá ter nenhuma cordinha segurando ...
E falaram mais um
pouco, conversando praticamente entre elas e praticamente ignorando a
minha existência. Era divertido vê-las conversando, falavam quase
que juntas e sempre se intendendo. Quando se viraram todas juntas e
me perguntaram:
- E o que o senhor
acha?
- Que será divertido –
respondi, tentando parecer o mais sério possível. - acho até que
deviam falar com o pessoal aqui do Centro de Cultura e pedir um
apoio, quem sabe fazer a corrida passar aqui na rua do meio dos
prédios.
- Legal – respondeu
uma animada – poderíamos pedir apoio da prefeitura!
E ainda bem que elas
me pagaram os sucos quando receberam, porque elas simplesmente se
levantaram e saíram conversando rumo a administração do centro de
cultura.